29 abril, 2013

Anúncio da Ressurreição



Havia um jardim vedado por altos muros que suscitava a curiosidade de muitas pessoas. Finalmente, uma noite quatro homens arranjaram um escadote muito, muito alto para ver o que havia do outro lado.
Quando o primeiro chegou ao cimo do muro, começou a rir muito alto e saltou para dentro do jardim.
Foi a vez do segundo, subiu e, lá em cima, desatou a rir e saltou também ele, lá para dentro.
A mesma coisa fez o terceiro.
Quando foi a vez do quarto, este viu do alto do muro um jardim fantástico (árvores de fruta, fontes, estátuas, flores de toda a espécie e milhares de coisas aprazíveis, atraentes e belas). O desejo de rir e saltar para aquele oásis tão viçoso e ameno era forte, mas um outro desejo teve mais força: o de voltar para o mundo e falar a todos da existência daquele jardim e da sua beleza.
In Folha paroquial: comunidade paroquial de Santo António dos olivais, ano 25, nº26, 15/04/2012 - Coimbra

28 abril, 2013

COMO EU VOS AMEI




1. No tempo de Jesus, o panorama do judaísmo palestinense era dominado por duas escolsas: a escola conservadora e rigorista de Shamai e a escola liberal de Hillel.
 2. Conta-se que, um dia, um homem se terá apresentado na escola de Shamai, e fez ao mestre um estranho pedido: «quero que, enquanto eu me mantiver apenas com um pé no chão, tu me expliques toda a Lei». Diz-se que Shamai se limitou a pegar na sua vara de mestre e a correr o homem pela porta fora, pois era óbvio que o homem fazia um pedido impossível de cumprir, tal era a vastidão da Lei. Mas o homem não desanimou e dirigiu-se à escola de Hillel, a quem formulou o mesmo pedido. E Hillel terá respondido de pronto: «Nada mais fácil: “Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti!”».
 3. A esta sentença de Hillel, na sua formulação negativa, deu-se o nome de «regra de ouro». Em boa verdade, ela já aparece no Livro de Tobias 4,15. É, todavia, fácil de verificar, que esta sentença é de fácil cumprimento. Dado que o seu teor é negativo, para a cumprir, basta a alguém cruzar os braços e nada fazer. Procedendo assim, nada fará de inconveniente a ninguém, cumprindo assim escrupulosamente a sentença.
 4. Tentando talvez evitar a inacção acoitada na formulação negativa anterior, os Evangelhos apresentam desta máxima uma formulação positiva: «Faz aos outros o que queres que te façam ti!» (Mateus 7,12; Lucas 6,31). Levando a sério esta formulação, já não é suficiente jogar à defesa e nada fazer, mas é requerido o fazer. Seja como for, as duas formulações apresentadas, quer a negativa quer a positiva, padecem do mesmo vício: sou eu o centro, é à minha volta que tudo roda, e o que eu faço ou deixo de fazer é com o objectivo claro de que me seja retribuído outro tanto!
 5. O tom positivo da referida «regra de ouro» recebe ainda outra bem conhecida formulação: «Ama o teu próximo como a ti mesmo!», que atravessa a inteira Escritura: Levítico 19,18; Mateus 22,39; Romanos 13,9; Gálatas 5,14; Tiago 2,8. Mas também esta formulação é perigosa: primeiro, porque eu continuo o ser o centro, a medida do amor aos outros; segundo, porque, se alguém não se ama a si mesmo (e são, infelizmente, cada vez mais os casos!), como poderá cumprir devidamente esta máxima?
 6. É aqui que cai, como uma lâmina, a força do Evangelho de Jesus, proclamado, por graça, neste Domingo V da Páscoa (João 13,31-34): «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei!» (João 13,34), precedido por aquele precioso e carinhoso diminuitivo «filhinhos» (teknía), só aqui, esta única vez, colocado nos lábios de Jesus. Aqui, a medida não sou eu. Aqui, a medida é Jesus. Aqui, a medida é sem medida! Aqui, o amor não é interesseiro. Aqui, o amor é puro, radical, incondicional, assimétrico, sem retorno. Aqui, o amor é até ao fim, e obriga-nos a ter sempre como referência o Senhor Jesus e o seu modo de viver, dando a vida por amor, para sempre e para todos!
 7. A lição do Livro dos Actos dos Apóstolos (14,21-27) põe outra vez diante de nós a viagem transitiva e intransitiva que a graça de Deus nos faz fazer (Actos 14,26), e de que resulta a narrativa de tudo o que Deus fez connosco (Actos 14,27) e com os pagãos, abrindo-lhes a porta da fé (Actos 14,27). É esta expressão que dá o título à Carta Apostólica Porta Fidei [«A Porta da Fé»] com que Bento XVI quis marcar o Ano da Fé que estamos a viver.
 8. Notável a lição do Livro do Apocalipse (21,1-5). Mundo novo, com Deus, Ele mesmo, a habitar no meio de nós, verdadeiro Emanuel, que acariciará o nosso rosto e enxugará as nossas lágrimas. Se o Emanuel habitará connosco, desaparecerão a morte, o luto, os gemidos, a dor, e também o mar que, no mundo bíblico, aparece como símbolo do caos e do mal.
António Couto, in Mesa de Palavras

25 abril, 2013

O Meu Céu!...




Para suportar o exílio do vale das lágrimas, preciso do olhar do meu Divino Salvador. Este olhar cheio de amor revelou-me os seus encantos, fez-me pressentir a felicidade Celeste. O meu Jesus sorri-me quando suspiro por Ele, então já não sinto a provação da fé. O olhar do meu Deus, o seu encantador Sorriso eis o meu Céu!...

O meu céu é poder atrair as almas, sobre a Igreja minha mãe e sobre todas as minhas irmãs, as graças de Jesus e as suas Divinas chamas, que sabem abrasar e alegrar os corações. Posso tudo alcançar quando em segredo falo a sós com o meu Divino Rei, esta doce Oração juntinho do Santuário.

O meu céu está oculto na Hóstia pequenina, onde Jesus, meu Esposo, se esconde por amor. A este Fogo Divino eu vou buscar a vida e nele o meu Salvador ouve-me noite e dia. «Oh! Que feliz instante quando na tua ternura, Vens meu Bem-amado, transformar-me em Ti» esta união de amor.

Sentir em mim a semelhança do meu céu, do Deus que me criou com o sopro poderoso, o meu céu é ficar sempre na sua presença chamar-lhe meu Pai e ser sua filha. Nos seus braços Divinos, no receio, na tempestade, o total abandono é a minha única lei. Dormitar no Seu Coração, bem junto do Seu Rosto.

Encontrei o meu céu na Trindade Santíssima, que habita no meu coração, prisioneira de amor aí, contemplando o meu Deus, repito-Lhe sem receio que o quero servir e amar para sempre. O meu céu é sorrir a este Deus que adoro, quando Ele quer esconder-se para me provar na fé. Sofrer enquanto espero que Ele me olhe de novo.
Santa Teresinha, recolha de Fr. Vitor

22 abril, 2013

O velho, o rapaz e o burro



Vivia no monte um homem muito velho que tinha na sua companhia um neto. Certo dia o velho resolveu descer ao povoado com o seu burro fazendo-se acompanhar do neto. Seguiam a pé, o velho à frente seguido do burro e atrás o neto. Ao passarem por uma povoação logo foram criticados pelos que observavam a sua passagem:
- Olhem aqueles patetas, ali com um burro e vão a pé.
O velho disse ao neto que se montasse no burro e este assim fez. Um pouco mais adiante passaram junto de outras pessoas que logo opinaram:
- O garoto que é forte montado no burro e o velho, coitado, é que vai a pé .
Então o velho mandou apear o neto e montou ele no burro. Andaram um pouco mais até que encontraram novo grupo de pessoas e mais uma vez foram censurados:
- Olhem para isto. A pobre criança a pé e ele repimpado no burro.
Ordenou então o velho ao neto:
- Sobe rapaz, seguimos os dois montados no burro.
O rapaz obedeceu de imediato e continuaram a viagem mas um pouco mais adiante um grupo de pessoas enfrentou-os com indignação:
- Apeiem-se homens cruéis, querem matar o burrinho?
Descendo do burro, disse o velho ao rapaz:
- Desce, continuamos a viagem como começamos. Está visto que não podemos calar a boca ao mundo.

Moral da estória: Cada cabeça, sua sentença.


21 abril, 2013

TANTA DEDICAÇÃO



1. O selêucida Antíoco IV Epifânio tinha profanado o Templo de Jerusalém em 167 a.C., introduzindo lá cultos pagãos. Contra esta helenização e paganização do judaísmo lutaram os Macabeus, e, em 164 a.C., Judas Macabeu procede à purificação do Templo e à sua Dedicação ao Deus Vivo. Este acontecimento deve ser celebrado todos os anos, durante oito dias, com a Festa da Dedicação, a partir de 25 do mês de Kisleu, que, no ano em curso de 2013, corresponde ao nosso dia 28 de Novembro.
 2. É no ambiente desta Festa anual da Dedicação do Templo que se situa a perícope do Evangelho de João 10,27-30 (veja-se João 10,22), proclamada neste Domingo IV da Páscoa, também Domingo do Bom Pastor e 50.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, sob o tema, proposto ainda por Bento XVI: «As Vocações, sinal da esperança fundada na fé». Nesta mensagem, Bento XVI evoca a radiomensagem de Paulo VI, de 11 de Abril de 1964, que deu início a este Dia Mundial de Oração pelas Vocações, e refere que as Vocações são um indicador seguro da vitalidade da fé e do amor de cada comunidade paroquial e diocesana, bem como o testemunho da saúde moral e espiritual das famílias cristãs, num mundo carente de mãos sacerdotais.
 3. A Festa da Dedicação, em hebraico hanûkkah, celebra-se durante oito dias, e tem como símbolo o candelabro de oito braços. Relata o Talmud que, quando os judeus fiéis entraram no Templo profanado pelos pagãos helenistas, encontraram uma única âmbula de azeite puro (kasher) de oliveira para reacender o candelabro de sete braços, em hebraicomenôrah, que é um dos símbolos de Israel, e que deve arder diante do Deus Vivo. Todavia, uma âmbula de azeite duraria apenas um dia, e eram precisos oito dias para preparar novo azeite puro. Pois bem, o azeite daquela única âmbula durou milagrosamente oito dias! Daí que, na Festa da Dedicação, se acenda um candelabro de oito braços, chamadohanûkkiah. Mas acende-se apenas uma luz por dia, depois do pôr-do-sol, aumentando progressivamente até estarem acesas as oito luzes. Além disso, e ao contrário das luzes da menôrah e do Sábado, que alumiam o interior do Santuário e da casa de família respectivamente, as Luzes do candelabro da Dedicação, refere o ritual, devem ser vistas cá fora: devem alumiar o ambiente social, político, comercial e cultural. E também ao contrário das luzes da menôrah e do Sábado, não se acendem todas de uma vez, mas progressivamente uma por dia, porque, quando as condições são adversas (paganismo helenista e escuro), não basta acender uma luz e mantê-la; é preciso aumentar constantemente a luz…
 4. Como este simbolismo é importante para os dias de hoje! Está escuro cá dentro e lá fora, o mundo parece descontruir-se, o paganismo é galopante! Mais do que nunca, é preciso, portanto, não apenas manter a luz, mas aumentá-la progressivante. E está em maravilhosa sintonia com a mensagem de Bento XVI para este 50.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, salientando a importância da fé e da esperança.
 5. O resto é a força e a beleza da imagem do Bom e Belo Pastor, que dá a Vida Eterna às suas ovelhas, que as segura pela mão, que as conhece, enquanto elas escutam a voz do Bom Pastor e o seguem. Maravilhosa Comunhão.
 6. Maravilhosa Comunhão também entre este Bom e Belo Pastor, que é o Filho, e o Pai. Texto denso, imenso e intenso, de grande alcance trinitário: «Eu e o Pai uma Realidade somos». Deixem-me pôr aqui o texto grego: egô kaì ho patêr hén esmen. O verbo está no plural: somos. Junta «Eu» e «o Pai», duas Pessoas. O predicativo, porém, não está na forma masculina, mas na forma neutra: uma Realidade (hén). Donde: o Filho e o Pai não são uma só Pessoa, mas são uma única Realidade (não coisa!, como se vê em algumas pobres traduções), uma única Substância (ousía), como diziam bem os Padres gregos. Um único e mesmo Amor que corre entre o Pai e o Filho, entre o filho e o Pai, circularmente, sem parar. Este Dom de Amor circular permanente e imperecível, constitui o Espírito Santo, distinto do Pai e do Filho, dos quais procede, mas distinto também do acto da doação, de que é o efeito e a significação. Se fosse o acto da doação não constituiria uma pessoa subsistente, pois não existiria como tal: seria a soma de duas pessoas, não uma terceira. seriaÓ música insondável do Amor de Deus, ó admirável comunhão de três Pessoas iguais, mas distintas, ó Vida Plena e Verdadeira a nós acessível por graça! Basta, para tanto, conhecer, escutar e seguir o Bom Pastor.
 7. O Livro dos Actos dos Apóstolos (Act 13,14-32) continua a mostrar como o Evangelho vai ao encontro de toda a humanidade. Extraordinária abertura ao extrangeiro dos Evangelizadores Novo Testamento, que trilham os caminhos de Deus, já apontados no Antigo Testamento. Diz Deus: «Bendito seja o Egipto, meu povo, a Assíria, obra das minhas mãos, e Israel, minha herança» (Isaías 19,25).
 8. Este universalismo continua a ler-se no Apocalipse (7,9-17) com aquela imensa Assembleia de louvor ao nosso Deus e ao Cordeiro. Os membros desta Assembleia provêm de todas as nações, raças, culturas, línguas, racionalidades.
 9. Mas no paladar fica ainda e sempre o sabor do Salmo 23: «O Senhor é o meu Pastor: nada me falta…».
António Couto, In Mesa de Palavras

18 abril, 2013

A fonte

Nestes dias em que a Igreja medita e vive o capítulo VI do Evangelho segundo São João, propomos à vossa meditação o Cantar da alma que folga em conhecer a Deus por fé, popularmente conhecido como A Fonte, escrito na prisão de Toledo. João da Cruz vai lembrando e saboreando contemplativamente os mistérios da fé, começando no Deus Uno e Trino até à Eucaristia. É um credo, uma oração, um canto.


Que bem sei eu a fonte que mana e corre
Mesmo sendo noite!

1. Aquela eterna fonte está escondida.
Bem eu sei onde tem sua guarida,
Mesmo sendo noite!

2. Sei que não pode haver coisa tão bela
E sei que os céus e a terra bebem dela,
Mesmo sendo noite!

3. Sua origem não a sei, pois não a tem,
Mas sei que toda a origem dela vem
Mesmo sendo noite!

4. O fundo dela, sei, não pode achar-se;
Jamais por ela a vau pode passar-se,
Mesmo sendo noite!

5. É claridade nunca escurecida
E sei que toda a luz dela é nascida,
Mesmo sendo noite!

6. Tão caudalosas são suas correntes
Que céus e infernos regam, mais as gentes,
Mesmo sendo noite!

7. Nascida de tal fonte, esta corrente
Bem sei que é mui capaz e omnipotente,
Mesmo sendo noite!


8. Das duas a corrente que procede
Sei que nenhuma delas antecede,
Mesmo sendo noite!

9. Aquela eterna fonte está escondida
Neste pão vivo para dar-nos vida,
Mesmo sendo noite!

10. Aqui está chamando as criaturas:
Desta água se saciem, e às escuras,
Porque é de noite!

11. É esta a viva fonte que desejo
E neste pão de vida é que eu a vejo,
Mesmo sendo noite!

São João da Cruz

15 abril, 2013

Parábola de uma herança abençoada




O pai, velho e doente, pressentia a sua morte próxima e convocou ao seu leito os quatro filhos.
A minha vida está a terminar e Deus chama-me a deixar os meus bens. Sinto-me abençoado. Tive uma esposa que foi a alegria dos meus dias e a luz das minhas noites. E Deus presenteou-me com a melhor colheita que um lavrador como eu pôde sonhar: sois vós, os quatro filhos do meu amor e das minhas entranhas. Estou-lhe grato: só lhe posso estar grato. Vós sois a minha melhor herança.

As terras, que durante tantos anos semeámos, serão para ti, Amador. És o mais velho dos quatro irmãos e serás o dono da terra que contemplou os nossos passos, recebeu os nossos suores e nos ofereceu o alimento. Trata dela. Temos muitos motivos para confiar nela.

Mercês, o poço da alameda é para ti. Dele beberam os nossos avós e a sua generosidade fertilizou os nossos campos, lavou os nossos corpos e apagou a nossa sede. Não o deixes contaminar porque sem ele cairá sobre vós a morte da seca.

O arado é para ti, Vítor. Ele é obra dos nossos avós e o instrumento que tornou possível lavrar a terra. Sem o arado, os nossos passos teriam sido estéreis e inúteis o nosso suor. Graças a ele os nossos esforços produziram e a terra agradeceu os nossos cuidados. Ele é apenas um instrumento, mas é tão valioso que aliviará o teu cansaço e compensará o teu esforço.

Daniel, tu ficarás com as sementes que nos restam da última colheita. É verdade, não são muitas. Com elas amassamos o pão e foram o alimento necessário para as nossas vidas. Elas têm a qualidade do milagre porque são capazes de se multiplicarem quando caem à terra e nela apodrecem. Contudo, transformar-se-ão em pó se as puseres num pedestal de ouro. De ti depende o seu poder; não te esqueças.

O velho pai morreu e enterraram-no junto à árvore que ele próprio havia plantado no extremo da terra que trabalhou durante toda a sua vida.

O tempo avançava muito mais depressa do que se esperava. Os irmãos, cada um com a sua herança, sentiam que os dias passavam e a infelicidade aumentava. De vez em quando invadia-os a saudade e recordavam como tinham sido felizes nos tempos passados.

Amador possuía a terra mas já estava a monte. As silvas e os arbustos tinham-na invadido até se tornar intransitável. Mercês tinha água em abundância mas começava a cheirar mal. A água estancada converte-se em ameaça para ela mesma, tal como o ser humano parado.

Vitor conservava o seu arado, mas a falta de uso tinha-lhe aberto fendas e uma invasão de teias de aranha tinha-lhe desfigurado a sua imagem e o seu futuro.

Daniel tinha cada vez menos sementes. Estava agradecido por dispor de pão abundante, quente e fresco. Mas aquele monte de sementes que o pai lhe havia deixado era agora só um punhado quase a acabar.

Então perguntaram-se: porque é que o nosso pai dividiu e repartiu a quinta? O que é que o nosso pai faria se ainda vivesse connosco?

Pensando em conjunto, descobriram que unindo as suas forças e as suas riquezas, aquela terra voltaria a ser lavrada, semeada, regada e voltaria a dar alimento para todos. Puseram mãos à obra e sentiram que o seu pai vivia e trabalhava novamente com eles. Fez muito bem em repartir a sua quinta.

14 abril, 2013

PEDRO, O LUME NOVO, A REFEIÇÃO NOVA, O AMOR MAIOR




1. A oposição luz – trevas atravessa de lés a lés o inteiro texto do IV Evangelho. A Luz verdadeira que vem a este mundo para iluminar todos os homens é Jesus (João 1,9). Sem esta Luz que é Jesus, andamos às escuras, na noite, na dor, no fracasso, na incompreensão. É assim, narrativamente – e, portanto, exemplarmente, para nós, leitores –, com Nicodemos, que anda de noite (João 3,2), com Judas, o homem da noite que tudo anoitece à sua volta  (João 13,30; 18,3), com os sete dicípulos da cena de hoje que trabalharam toda a noite, sem sucesso (João 21,3).



2. Mas Jesus aparece de madrugada na praia, no limiar do dia e da alegria, aqui perto, a cem metros de nós. Com os olhos embotados pela doença do escuro, não O reconhecemos à primeira. Mas ouvimos a Sua voz carregada de verdade, que nos desvenda («Não tendes nada para comer, pois não?» (João 21,5) e nos aponta rumos verdadeiros («Lançai a rede para a direita da barca, e encontrareis») (João 21,6). Não o reconhecemos à primeira. Mas vemos e lemos os Sinais. «É o Senhor», diz para Pedro o discípulo, aquele que Jesus amava (João 21,7). E Pedro correu na direcção de Jesus. Os outros seis vieram também, arrastando a barca carregada de peixes.

3. E sobre a praia o lume novo e a refeição nova, cuidadosamente preparada por Jesus (João 21,9). Agora Pedro está no lugar certo, com Jesus, e aquece-se no lume vivo, que é Jesus. Belo e exemplar contraponto: pouco antes, narrativamente falando, Pedro estava com os guardas, que andavam na noite, e aquecia-se a outro lume, aceso na noite, pelos guardas (João 18,18). Tinha rompido a sua intimidade com Jesus. Mas agora arrasta a rede cheia com 153 grandes peixes. E o narrador refere, chamando a nossa atenção, que, embora fossem muitos, a rede não se rompeu (João 21,11). «Romper» traduz o verbo gregoschízô, donde vem etimologicamente «cisma». É, portanto, de comunhão e de unidade que se trata, e não de «cismas», dissensões, divisões. O número 153 ajuda a ler esta «comunhão», se quisermos ver nesse número a gematria, ou tradução em números, da locução hebraica qahal ha’ahabah [= «comunidade do amor»], excelente maneira de dizer a realidade nova e bela da Igreja.

4. E é sobre o amor o diálogo que se segue entre Jesus e Pedro: «Pedro, amas-me mais…?», pergunta Jesus por três vezes. E por três vezes Pedro responde que sim, ouvindo de Jesus, também por três vezes a nova missão de «Pastor» que lhe é confiada: «Apascenta as minhas ovelhas» (João 21,15-17). Entenda-se bem que as ovelhas nunca deixam de ser pertença de Jesus Ressuscitado. E a afirmação por três vezes do amor de Pedro a Jesus recompõe a intimidade rompida por Pedro com aquelas três negações um pouco antes narradas (João 18,17-27).

5. Senhor, ensina a tua Igreja de hoje outra vez a ver e a ler os Sinais da Tua presença na madrugada e na praia, novo limiar de luz e de esperança que orienta a nossa vida toda para Ti, referência fundamental do amor e da comunhão que deve unir como uma rede a Tua Igreja. Precede-nos e preside-nos sempre. Não nos deixes perdidos no nevoeiro e na confusão, na noite e no frio, a orientar-nos por outro farol, a aquecer-nos a outro lume. Faz que reconheçamos sempre a Tua voz de Único Verdadeiro Pastor, e ampara os pastores que incumbiste de apascentar as tuas ovelhas.

6. A lição do Livro dos Actos dos Apóstolos (5,27-41) mostra-nos os Apóstolos como testemunhas do Ressuscitado. Cheios do Espírito Santo, intrépidos, sem medo, e com alegria grande, enchem Jerusalém com o nome de Jesus. Extraordinária provocação para nós, que temos tanta cidade e tantos corações â nossa espera.

7. Jesus é a testemunha fiel (Apocalipse 1,5), porque diz o que ouviu dizer ao Pai e faz o que viu fazer ao Pai. Por isso, todas as criaturas o aclamam, como refere a lição de hoje do Livro do Apocalipse (5,11-14).
D. António Couto, In Mesa de Palavras

13 abril, 2013

A entrada de Jesus Ressuscitado na vida de Paulo: textos dos Actos dos Apóstolos




A entrada de Jesus Ressuscitado na vida do apóstolo foi um acontecimento determinante na vida da Igreja primitiva e, por este motivo, o autor deste livro relata-a não uma, mas três vezes. Apresentamos aqui os três relatos fornecidos por S. Lucas, a fim de os lerdes, confrontardes e notardes as diferenças e contradições. O acontecimento é contado com pormenores não somente diferentes, mas até mesmo contraditórios. Trata-se – claro está – de incongruências de pouca importância, mas que existem e são preciosas: sugerem que não interpretemos o relato como um banal facto de crónica, mas como uma experiência espiritual decisiva na vida de Paulo, experiência que tem muito para nos ensinar também hoje e da qual falaremos na próxima publicação.

(Act 9,3-19)
«Estava a caminho e já próximo de Damasco, quando se viu subitamente envolvido por uma intensa luz vinda do Céu. Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: «Saulo, Saulo, porque me persegues?» Ele perguntou: «Quem és Tu, Senhor?» Respondeu: «Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Ergue-te, entra na cidade e dir-te-ão o que tens a fazer.» Os seus companheiros de viagem tinham-se detido, emudecidos, ouvindo a voz, mas sem verem ninguém. Saulo ergueu-se do chão, mas, embora tivesse os olhos abertos, não via nada. Foi necessário levá-lo pela mão e, assim, entrou em Damasco, onde passou três dias sem ver, sem comer nem beber. Havia em Damasco um discípulo chamado Ananias. O Senhor disse-lhe numa visão: «Ananias!» Respondeu: «Aqui estou, Senhor.» O Senhor prosseguiu: «Levanta-te, vai à casa de Judas, na rua Direita, e pergunta por um homem chamado Saulo de Tarso, que está a orar neste momento.» Saulo, entretanto, viu numa visão um homem, de nome Ananias, entrar e impor-lhe as mãos para recobrar a vista. Ananias respondeu: «Senhor, tenho ouvido muita gente falar desse homem e a contar todo o mal que ele tem feito aos teus santos, em Jerusalém. E agora está aqui com plenos poderes dos sumos sacerdotes, para prender todos quantos invocam o teu nome.» Mas o Senhor disse-lhe: «Vai, pois esse homem é instrumento da minha escolha, para levar o meu nome perante os pagãos, os reis e os filhos de Israel. Eu mesmo lhe hei-de mostrar quanto ele tem de sofrer pelo meu nome.» Então, Ananias partiu, entrou na dita casa, impôs as mãos sobre ele e disse: «Saulo, meu irmão, foi o Senhor que me enviou, esse Jesus que te apareceu no caminho em que vinhas, para recobrares a vista e ficares cheio do Espírito Santo.» Nesse instante, caíram-lhe dos olhos uma espécie de escamas e recuperou a vista. Depois, levantou-se e recebeu o baptismo. Depois de se ter alimentado, voltaram-lhe as forças e passou alguns dias com os discípulos, em Damasco».

(Act 22,6-16)
«Ia a caminho, e já próximo de Damasco, quando, por volta do meio-dia, uma intensa luz, vinda do Céu, me rodeou com a sua claridade. Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia: ‘Saulo, Saulo, porque me persegues?’ Respondi: ‘Quem és Tu, Senhor?’ Ele disse-me, então: ‘Eu sou Jesus de Nazaré, a quem tu persegues.’ Os meus companheiros viram a luz, mas não ouviram a voz de quem me falava. E prossegui: ‘Que hei-de fazer, Senhor?’ O Senhor respondeu-me: ‘Ergue-te, vai a Damasco, e lá te dirão o que se determinou que fizesses.’ Mas, como eu não via, devido ao brilho daquela luz, fui levado pela mão dos meus companheiros e cheguei a Damasco. Ora um certo Ananias, homem piedoso e cumpridor da Lei, muito respeitado por todos os judeus da cidade, foi procurar-me e disse: ‘Saulo, meu irmão, recupera a vista.’ E, no mesmo instante, comecei a vê-lo. Ele prosseguiu: ‘O Deus dos nossos pais predestinou-te para conheceres a sua vontade, para veres o Justo e para ouvires as palavras da sua boca, porque serás testemunha diante de todos os homens, acerca do que viste e ouviste. E agora, porque esperas? Levanta-te, recebe o baptismo e purifica-te dos teus pecados, invocando o seu nome’».

(Act 26,12-18)
«Foi assim que, indo para Damasco com poder e delegação dos sumos sacerdotes, vi no caminho, ó rei, uma luz vinda do céu, mais brilhante do que o Sol, que refulgia em volta de mim e dos que me acompanhavam. Caímos todos por terra e eu ouvi uma voz dizer-me em língua hebraica: ‘Saulo, Saulo, porque me persegues? É duro para ti recalcitrar contra o aguilhão.’ Perguntei: ‘Quem és tu, Senhor?’ E o Senhor respondeu: ‘Eu sou Jesus a quem tu persegues. Ergue-te e firma-te nos pés, pois para isto te apareci: para te constituir servo e testemunha do que acabas de ver e do que ainda te hei-de mostrar. Livrar-te-ei do povo e dos pagãos, aos quais vou enviar-te, para lhes abrires os olhos e fazê-los passar das trevas à luz, e da sujeição de Satanás para Deus. Alcançarão, assim, o perdão dos seus pecados e a parte que lhes cabe na herança, juntamente com os santificados pela fé em mim’». 
Pe. Vasco      

11 abril, 2013

Humildade



Ó Jesus! Quando éreis peregrino na terra disseste: «Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e achareis descanso para as vossas almas».

            Ó poderoso Monarca dos céus, sim, a minha alma acha o descanso ao ver-vos, sob a forma e a condição da escravo, abaixar-vos ao ponto de lavardes os pés aos vossos apóstolos. Lembro-me então destas palavras que pronunciastes para me ensinardes a praticar a humildade: «Dei-vos o exemplo para que, aquilo que Eu vos fiz, o façais vós também; o discípulo não é mais do que o Mestre… se compreenderdes estas coisas, sereis felizes ao praticá-las». Compreendo Senhor estas palavras saídas do vosso coração manso e humilde, quero praticá-las como o auxílio da vossa graça. Quero abaixar-me humildemente e submeter a minha vontade à das minhas Irmãs, sem as contradizer em nada e sem procurar saber se elas têm ou não direito. Ó Meus Bem-amado, que doce humilde de coração me apareceis sob o véu de branca hóstia! Para me ensinar a humildade não podeis abaixar-Vos mais, por isso quero, para corresponder ao vosso amor, desejar que as minhas irmãs me deixem sempre no último lugar e convencer-me de que esse lugar é o meu.

            Suplico-Vos, meu divino Jesus, que me envieis uma humilhação sempre que eu tentar elevar-me acima das outras. Ó meu Deus sei que humilhais a alma orgulhosa mas aquela que se humilha dais uma eternidade de glória, quero pois colocar-me no último lugar, participar nas vossas humilhações para «tomar parte convosco» no reino dos céus.

            Mas, Senhor, vós conheceis a minha fraqueza; todas as manhãs tomo a resolução de praticar a humildade e a noite reconheço que cometi ainda muitas faltas de orgulho, ao ver isto sou tentada a desanimar; mas sei que o desalento é também orgulho. Quero pois, ó meu Deus, fundar a minha esperança só em Vós; já que tudo podeis, dignai-Vos fazer nascer na minha alma a virtude que desejo. Para alcançar esta graça da vossa infinita misericórdia repetirei muitas vezes: «Ó Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao vosso!».

Santa Teresinha do Menino Jesus

Recolha de fr. Vítor

08 abril, 2013

O Fazedor de Milagres



Em tempo de Natal, surgem em todos os écrans televisivos aproximações à narração da história de Jesus.
Argumento/Sinopse 

O filme decorre durante o século primeiro acompanhando a história de uma menina que padece de uma doença que ninguém pode curar. Na tentativa de descobrir uma forma de sarar a filha, a família encontra um carpinteiro chamado Jesus que anuncia as maravilhas de Deus. O encontro com Jesus vai fazer nascer uma esperança e uma atitude nova. Todos juntos acompanham Jesus enquanto Ele forma os seus discípulos, enfrenta as autoridades corruptas e cura os doentes e antes de enfrentar a parte mais terrível da sua missão: dar a vida para salvação de todos. A perspectiva escolhida para narrar a trama, a partir da óptica de Tamar, a filha de Jairo que Jesus ressuscita, torna-a ainda mais emotiva. Tamar é uma personagem simpática, terna e sensível, transportando-nos para um mundo de sensibilidade e ternura tocantes ao longo do filme. Em paralelo, surge a história de Jesus, com medida certa e abordagem interessante e feliz. 

Crítica 

“O Fazedor de Milagres” é um relato em animação da história de Jesus aclamado pela crítica. Ao nível de “Toy story” e outros filmes de animação de alta qualidade, o realismo das suas imagens conduz a uma aproximação da realidade confundindo os espectadores. Nele, a história de Jesus é contada fluentemente, com recurso ao desenho animado para os momentos de flashback. Os autores tomam simplesmente a história dos evangelhos, com algumas modificações menores (fundamentalmente nas figuras negativas de Herodes e Pilatos, um pouco à imagem de “Rei dos Reis” de Nicholas Ray), e converte toda a essência da história de Jesus num filme feito de imagens em plasticina. De fora, ficam alguns momentos importantes de modo a respeitar todos os públicos evangélicos (não católicos): a anunciação a Maria, a visita a Isabel ou a fuga para o Egipto; como ausente está a Transfiguração, a confissão de Pedro e as chaves do Reino. Mesmo assim, consegue o quase impossível respeito pelo original evangélico ao mesmo tempo sem cair no aborrecimento, numa visão de Jesus segundo os evangelhos, religiosamente neutra. 

Aplicações 

O mundo da animação é sempre uma proposta simpática de abordagem para a história de Jesus. Este “fazedor de milagres” extraordinário que transforma as vidas dos que com Ele se cruzam. Realizado entre a Inglaterra e a Rússia, podemos neste Natal usá-la como ponto de referência para a apresentação da vida de Jesus. Mas pode ser usado em tantas outras situações: em referência ao chamamento dos discípulos, à paixão e ressurreição de Jesus, a algumas parábolas, enfim, a tantos aspectos da vida de Jesus. 

Actividade 

“Rasguem caminhos através do deserto. Abri os corações ao Senhor que está para chegar” – diz-nos João. Esta é a nossa tarefa de Advento: preparar a vinda do Senhor que está para chegar ao nosso coração. 

Sequências 

- 0:00:00 – 0:08:50 – No início do filme apresenta-se Jesus como carpinteiro iniciando uma missão. Em flashback, surge a perda de Jesus no Templo e o nascimento de Jesus, com os presentes e a epifania aos Reis Magos. E a voz de João no deserto: preparai os vossos corações para o Senhor que está para chegar. 

1. Dialogar a partir das imagens vistas. Jesus está de novo a chegar, como em cada Natal. Que sentido tem prepararmos a vinda de Jesus? Como poderemos, também nós, abrir o nosso coração? 

2. Mais: que significa hoje abrir o nosso coração a Jesus para que seja morada de Deus? Diante das mil cores do Natal, das mil propostas do comércio e do consumismo, como poderemos proteger o nosso coração daquilo que não interessa deste Natal? 

3. Diálogo final. Há muita gente que não sabe o que é o Natal de Jesus, mesmo que a sua rua esteja enfeitada, mesmo que recebendo presentes de Natal, mesmo que atordoados pela publicidade deste tempo. Há uma canção do CD “Natal de Esperança” das Edições Salesianas, que diz “Não sabem que é Natal”: há noutra terra, homens em guerra, gente gritando, gente chorando, gostava tanto que eles soubessem que é Natal”. Que podemos fazer para tornar verdade o Natal hoje? 

“Presente para Jesus: o nosso coração cheio de ti” 

Qual seria o melhor presente que poderíamos oferecer a Jesus neste Natal? Certamente, que um gesto de solidariedade, de partilha, de encontro com o mais pobre. Dependendo da idade dos nossos destinatários, podemos criar algo de novo para este tempo de Natal e Epifania, de manifestação da presença de Deus no nosso mundo. Propomos agora um presente simples de realizar para idades mais pequeninas, enriquecidas pelo amor que enche os nossos corações. No centro do nosso coração está o presépio: o nascimento de Jesus – na simplicidade dos que nada têm, na vida dos que sofrem, na vida de tantos que, como nós, querem que haja Natal de novo. 
Propomos fazer, sobretudo para os mais pequenos, um cartão que seja um “presente para Jesus” que se pode colocar junto do Presépio. Num cartão simples, que pode ter as figuras principais do presépio (José, Maria e o Menino), cada catequizando poderá apresentar o seu presente para Jesus, sabendo que no mundo (e no nosso mundo), há muitos que “não sabem que é Natal”. Que o compromisso de cada um seja autêntico e possível de realizar. 

04 abril, 2013

Pastorzinho de São João da Cruz


Neste poema, João da Cruz transmite uma interpretação da encarnação, vida, morte e ressurreição de Cristo por cada alma, pela Igreja, em clave de amor.




Canções transpostas «ao divino» sobre Cristo e a alma 


Um pastorzinho, só e amargurado,
Alheio de prazer e de contento
Tem na sua pastora o pensamento
E o peito por amor tão magoado.


Não chora por amor o haver chagado,
Pois lhe não dói assim ver-se afligido,
Embora o coração tenha ferido;
Mas chora de pensar ser olvidado.


Que só de se pensar já olvidado
Pela bela pastora, em dor tamanha
Se deixa maltratar em terra estranha,
Seu peito por amor tão magoado.


E diz o pastorzinho: Ai, malfadado
É quem do meu amor buscou a ausência
E quem não quer gozar minha presença,
Por seu amor meu peito magoado!


E, ao fim de grande tempo, ele há trepado
Uma árvore: abriu os braços belos
E morto lá ficou, suspenso deles,
Seu peito por amor tão magoado!

03 abril, 2013

A missão específica de mulher




A vocação de todo o ser humano é chegar a ser o que Deus quer que cada um seja: pessoa plena, isto é, verdadeiramente realizada, agindo e cuidando da criação para que em tudo e através de tudo se possa ver e experimentar a bondade, a beleza e o amor de Criador. 
  
Homem e Mulher são iguais em direitos, dignidades e obrigações. Um não é superior ao outro. São duas expressões do mesmo ser humano com origem em Deus e que para Ele tendem.

«ser feminino é um modo singular de ser pessoa» que é resultado não só da sua constituição física e biológica mas também da sua constituição anímica e interior.
A vocação geral do ser humano é ser imagem de Deus. Para chegar a realização dessa vocação, cada um, através da sua vocação pessoal, que reside na sua individualidade, expressa-se de modo distinto conforme a sua masculinidade ou feminilidade. É neste sentido que se entende a vocação e a missão específica da mulher.   
   
«Junto com a vocação geral que a mulher possui em comum com todos os homens e a individual própria de cada pessoa, temos a vocação de mulher enquanto tal. Deus criou o homem como varão e mulher dando a cada um modo e determinação próprios: “Não é bom que o homem esteja só”, assim disse depois da criação do primeiro homem dando-lhe a mulher como companheira. Esta primeira determinação acomoda-se ao seu modo de ser: caminhar ao lado do homem, tomar parte com amor na sua vida, com fidelidade e disposta a servir é o característico da feminilidade. Isto implica ter capacidade de empatia para com o outro e as suas necessidade, capacidade e docilidade de adaptação».

 MACHADO, António José Gomes - Edith Stein: Pedagoga e Mística
Braga: Editorial A. O., 2008, p. 70.  Santos para hoje.

Recolha de Fr. Eugénio.


01 abril, 2013

A cor das lentes com que se… vê



Que alegria sentiu aquele viajante quando viu ao longe o oásis!
Já tinha percorrido centenas de quilómetros sobre as areias de uma imponente planície desértica. 
À sombra de algumas palmeiras, os habitantes pareciam um paraíso de felicidade: as crianças brincavam, as mulheres cumprimentavam sorridentes e os homens passavam as horas em agradável convívio.

Se antes o nosso viajante imaginava como único paraíso a sombra e a água, agora acabava de descobrir que a felicidade também está, e cresce com o acolhimento, a comunicação e as relações amigáveis.

Aquele ambiente pareceu-lhe tão extraordinário que quis conhecer a sua razão de ser. Ao ver um velho que brincava com uma criança perguntou-lhe: «Oiça, procuro um lugar agradável para viver. Como são as pessoas desta terra?». O venerável ancião não lhe respondeu, mas perguntou por sua vez: «e como são as da sua terra?».

O viajante, respondeu um pouco aborrecido: «As pessoas da minha terra são egoístas, desconfiadas e pouco credíveis». «Pois, aqui as pessoas - disse o ancião – são muito parecidas com essas».
        
O viajante, decepcionado, disse para consigo: «Nem tudo o que reluz é ouro. Mais vale ir procurar outro oásis».

Mas eis que algumas horas mais tarde, casualmente, chegou outro viajante que, ao ver o mesmo espectáculo, fez a mesma pergunta. E o ancião, por sua vez fez também a sua pergunta: «como são as da sua terra?».

O novo viajante lembrou, radiante de alegria, as pessoas da sua aldeia como pessoas cheias de bondade, de boa vizinhança, de alegria e de solidariedade…recordava-as com grande carinho.

O ancião respondeu com o mesmo tom: «Pois, aqui as pessoas também são assim, são muito parecidas».

O viajante foi-se embora contente por ter encontrado tanta gente boa e feliz. Quando ficaram a sós, a criança perguntou admirada ao ancião porque é que respondeu do mesmo modo a pessoas tão diferentes.

O ancião, com ar afável e misterioso, respondeu-lhe: «Não fugi à verdade. O bem e o mal não estão fora, mas dentro de cada um. Costumamos ver com os olhos do coração. Quem desconfia das pessoas no lugar onde vive, também desconfiará no lugar para onde for». 

In Parábolas de Hoje